sábado, 21 de maio de 2011

Era uma vez... Escrito nas estrelas

Eu sempre quis ter filhos. Depois que me casei passei a ficar cada dia mais fissurada no assunto. Já estava chata, com a idéia fixa de engravidar, e nada. Sabe quando todo mundo que te conhece, depois de um tempinho de casada, começa a te perguntar se não quer ter filhos, ou pra quando está planejando começar a família? Eu simplesmente pirava, tinha vontade de chorar e a deprê tomava conta.  O pobre coitado do meu marido tinha que ficar fazendo mil malabarismos pra contornar minha confusão emocional e às vezes consertar uma resposta dada com os nervos já à flor da pele (eu disse que tava pirando, rsrs). Tentei convencê-lo a tentar a adoção, já que parecia que não podíamos ter filhos mas ele era contra, dizia que tínhamos que tentar mais e depois, se realmente não pudéssemos engravidar, ele concordaria em adotar. Chegou até a fazer uma cirurgia, já que comigo parecia estar tudo bem e ele tinha um probleminha que poderia estar atrapalhando.

Eu vivia sonhando com o dia em que finalmente meus testes de gravidez (praticamente um por mês) daria positivo e eu poderia ter minha menininha de cabelos cacheados, boquinha de moranguinho, pernas grossas e bumbum arrebitado, rsrs. Enxergava uma criança a quilômetros de distância e ficava babando, admirando a sorte alheia. Um dia acordei com um sonho muito nítido de que teria gêmeos e quase enlouqueci de desejo. Parecia o máximo da realização, conseguir engravidar e ter gêmeos, dois bebê só pra mim. Daí comecei a contar como certo: um dia teria meus gêmeos. Minhas amigas no trabalho achavam graça, sempre que contava meus planos. Minha mãe ficava meio assustada, pois quem em sã consciência pode querer ter trabalho dobrado? Mas até aí era só sonho e sonhar nunca fez mal a ninguém, né?

No início de outubro de 2008, um tio que mora em Minas, estava em meditação e teve uma revelação. Ligou pra minha mãe e contou que havia "visto" (pressentido) que haviam duas crianças prontinhas me esperando. Elas estavam aguardando pra ficar comigo. Quando a minha mãe perguntou se podiam ser gêmeos, já que eu não parava de falar que ia ganhar gêmeos, meu tio ficou até assustado pois não conhecia este meu desejo. Minha mãe me ligou na mesma hora, pois eu estava viajando com algumas tias, e contou o que meu tio havia dito. Disse que eu devia voltar pra casa e recomeçar as tentativas, pois ela acreditava que era um sinal de Deus.

Em meados de dezembro de 2008, finalmente consegui um positivo. Fiquei muito feliz, parecia um sonho. Liguei pra família toda e contei pra todo mundo. O positivo coincidiu com minhas férias e eu curti muito este início de gravidez. Pouco depois da virada de ano eu comecei a ter um sentimento estranho, como se estivesse alguma coisa errada. Cheguei a ter uma crise de pânico lendo o livro "Marley e eu", naquele capítulo onde a personagem principal descobre que perdeu o bebê durante o exame de ultrassom, mas todo mundo dizia pra desencanar e aproveitar os mimos que estava recebendo da família e dos amigos.

Só que em janeiro de 2009 o sonho virou pesadelo. Com pouco menos de um mês após descobrir que estava grávida, no primeiro exame de ultrassom pra descobri de quantas semanas estava e se estava tudo bem, fiquei muito decepcionada por não conseguir ouvir o coraçãozinho do bebê. Enquanto esperava o laudo do exame, na sala de espera, fiquei remoendo minhas dúvidas e pedi pra falar com a médica que realizou o exame. Pedi pra conferir se estava mesmo tudo bem, porque pelos meus cálculos (e do dr. Google) e da minha ginecologista-obstetra, era pra estar com sete semanas, quando já seria possível ouvir o coração. Ela alegou que eu podia ter calculado errado, já que as dimensões de embrião e útero eram compatíveis com cinco semanas, mas se eu quisesse me receberia na próxima semana pra refazer o exame, insistindo que uma semana de gestação faz toda a diferença, e então eu poderia me tranquilizar.

Chorei por todo o trajeto até em casa. Eu sabia que estava errado. Sabia que se fosse só o caso de ter errado na conta eu não poderia estar me sentindo tão miserável, e que havia acontecido o pior. Meu marido tentou me tranquilizar, sem sucesso, e por fim chegamos a brigar. Só no outro dia consegui me acalmar um pouco e decidi que, se eu estava certa, não tinha mais o que fazer então era melhor me conformar. Comecei a rezar por compreensão e aceitação, porque sentia que só Deus pra me ajudar naquela hora. Passei o resto da semana vegetando; fingindo que estava tudo bem, e morrendo por dentro.

Uma semana depois, fui repetir a ultra. A doutora olhou o exame, verificou o laudo anterior e por fim disse que não se lembrava mais porque eu estava ali, mas que havia uma involução e terminou por repetir exatamente as mesmas palavras que o médico do livro havia dito à dona do Marley. Eu só consegui olhar pro meu marido, que estava paralisado de pavor no canto da sala. Foi com certeza um dos piores dias da minha vida. Digo um dos, porque ainda tive que esperar três dias pra fazer a curetagem e essa experiência foi terrível. Ser internada numa maternidade, ter a indução de um parto com todas as dores e sair de lá de braços vazios e uma sensação de incompetência que parece que nunca vai terminar, acaba com qualquer um.

Mas Deus é grande e eu consegui me sair até bem dessa provação. Não enlouqueci, como imaginava que aconteceria se tivesse que passar por isto. Me apeguei ainda mais ao meu marido, que foi quem mais me deu forças, e continuei sonhando com bebês apesar do medo de passar por tudo aquilo de novo. Depois de um tempo, recomecei a tentar convencer o maridão a adotar, pois seria uma forma de conquistar a família que sonhávamos sem correr o risco de passar por aquele suplício outra vez.

Mais de um ano depois, em fevereiro de 2010, ficamos sabendo do caso de duas meninas, gêmeas, que estavam abrigadas no interior e eu tive a certeza absoluta de que eram as minhas filhas, que eu esperava já há tanto tempo. Decidimos nos informar melhor e pleitear a adoção. Qual não foi minha surpresa quando soube que elas haviam nascido em outubro de 2008? Quando fomos visitá-las, foi amor à primeira vista e elas estão conosco desde então. São duas princesas maravilhosas, exatamente como havia sonhado e trouxeram a alegria de volta às nossas vidas.

Me diz aí: não estava escrito nas estrelas?